15/09/2012

O PÁSSARO CATIVO


"Armas, num galho de árvore, o alçapão.
E, em breve, uma avezinha descuidada,
batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada, a gaiola dourada.
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo. 
Por que é que, tendo tudo, há de ficar o passarinho mudo,
arrepiado e triste, sem cantar?
É que, criança, os pássaros não falam.
Só gorgeando a sua dor exalam,
sem que os homens os possam entender.
Se os pássaros falassem, talvez os teus ouvidos escutassem
este cativo pássaro dizer: "Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro na mata livre
em que a voar me viste. Tenho água fresca num recanto escuro.
Da selva em que nasci; da mata entre os verdores,
tenho frutos e flores, sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
de haver perdido aquilo que perdi...
Prefiro o ninho humilde, construído de folhas secas,
plácido, e escondido. Entre os galhos das árvores amigas...
Solta-me ao vento e ao sol! Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde, entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me, covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade!
Não me roubes a minha liberdade...
QUERO VOAR! VOAR!..."
Estas coisas o pássaro diria, se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria, vendo tanta aflição.
E a tua mão, tremendo, lhe abriria a porta da prisão..."

Olavo Bilac

(Um poema parnasiano, em oposição ao romantismo)